A veneração e o papel da Mãe de Deus
A veneração e o papel da Mãe de Deus
Testemunho
dos Primeiros Cristãos
Desde os primórdios
do Cristianismo, a Virgem Mãe de Deus é venerada e clamada por proteção e
intercessão.
Os pais da igreja nunca deixaram de falar desta tenra e doce mãe. Um dos exemplos é Santo Ireneu de Lyon (†202), na sua obra “Contra as Heresias” escreve:
“O gênero
humano que fora submetido à morte por uma virgem, foi libertado dela por uma
virgem; a
desobediência
de uma virgem foi contrabalançada pela obediência de uma virgem; mais, o pecado
do
primeiro homem foi curado pela correção de conduta do Primogênito e a prudência
da serpente
foi
vencida pela simplicidade da pomba: por tudo isso foram rompidos os vínculos
que nos
sujeitavam
à morte.”
Desta forma,
construindo uma analogia entre a primeira mulher (Eva) que contribui para a
morte e Maria, que contribuiu para a vida, ou seja, a redenção da humanidade
através do sacrifício de Jesus, o seu “fruto bendito”.
Primeiro
Concilio de Éfeso
A fim de
combater a heresia de Nestório, patriarca de Constantinopla, que defendia a
crença de que Cristo não seria uma pessoa única, possuindo deste modo nele duas
entidades ou divisões, uma divina e outra humana, e que por conseguinte, Maria
não podia ser chamada de “Mãe de Deus”, mas apenas de “Mãe de Cristo”, foi
convocado, em 431, o primeiro concilio ecuménico em Éfeso que condenou a
doutrina de Nestório como herética e ao dogmatizar que em Cristo havia apenas
uma pessoa com duas natureza, uma divina e outra humana, e que por conseguinte,
Maria seria verdadeiramente a Theotókos, a mãe de Deus, não sendo apenas
mãe de Cristo humano, mas também de Cristo divino, pois de facto Cristo é
apenas uma pessoa divina e humana.
“Que seja excomungado quem não professar que
Emanuel é verdadeiramente Deus e, portanto, que a Virgem Maria é
verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o
Verbo de Deus”
Virgindade
Perpétua
A virgindade
perpétua de Maria, antes, durante e após o parto, foi sempre manifestada na
igreja desde o começo. Os primeiros cristãos, expressaram essa certeza de fé
usando o termo grego de aeparthenos – sempre virgem- exprimindo, deste
modo, numa só palavra a fé da igreja na sua virgindade perpétua.
Em 374, Santo
Epifâneo, em relação à Encarnação declara que Cristo “encarnou-Se, isto é,
foi gerado de modo perfeito por Santa Maria, a sempre Virgem, por obra do
Espírito Santo” (Ancoratus, 119,5; DS 44).
A virgindade
“antes do parto” é sem dúvidas a mais importante por estar estritamente ligada
à conceção de Jesus e ao mistério da Encarnação. Esta convicção esteve sempre
presente na fé da Igreja, enquanto que a virgindade “no parto” e “depois do
parto” tornou-se objeto de aprofundamento doutrinal.
O Papa Hormisda
esclarece, quanto à virgindade “no parto” que “o Filho de Deus Se tornou
filho do homem, nascido no tempo como um homem, abrindo no nascimento o seio da
Mãe (cf. Lc 2, 23) e, pelo poder de Deus, não destruindo a virgindade da Mãe”
(DS 368). Com efeito, o nascimento de Cristo “não diminui, antes consagrou a
integridade virginal” da sua Mãe. (Lumen Gentium, 57).
Em relação à
virgindade “depois do parto”, costuma-se objetar utilizando os textos da
Sagrada Escritura que se referem aos “irmãos e irmãs” de Jesus. A igreja
entendeu que esses “irmãos” de Nosso Senhor não são filhos da Virgem Maria, mas
filhos de “outra Maria”, tratando-se por isso de parentes próximos de Nosso
Senhor, visto que na língua semita, todos os parentes próximos eram nomeados
como irmãos, visto não existirem outros termos.
Em suma,
Jesus é o filho único de Maria, mas a maternidade espiritual de Maria
estende-se a todos os homens que Cristo veio salvar, como certificado por Cristo,
na cruz, que confiou o seu discípulo amado (que representa a Igreja) aos cuidados
de Sua Mãe.
Imaculada
Conceição
Em sua bula Ineffabilis
Deus, em 8 de de dezembro de 1854, o Papa Pio IX proclama a Imaculada
Conceição de Maria como dogma.
Santo Irenu
declara, no século III, que “o Verbo se faria carne, e o Filho de Deus,
Filho do homem; o puro que abre de modo puro o seio puro que regenera os homens
em Deus, que ele fez puro”(Contra as Heresias).
Predestinada
desde toda a eternidade, a Mãe do Salvador “foi adornada por Deus com dons
dignos de uma grande missão”.
“O Pai das misericórdias quis que a aceitação,
por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação, para que,
assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse
para a vida”.
Efetivamente,
a “cheia de graça”, para dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua
vocação, tinha e era necessário que fosse movida totalmente pela graça de Deus.
“Redimida dum
modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho”, a Panaghia
(toda santa) , foi “preservada intacta de toda a mancha do pecado original no
primeiro instante da sua conceição”.
A “Nova Eva”
foi modelada no seio de Sant´Ana pelo Espírito Santo como nova criatura, para
através da sua livre cooperação, pela sua fé e obediência, na salvação dos
homens, se tornasse a mãe dos vivos.
Assunção
Desde a conceção
virginal de Cristo até à sua morte, Maria associou-se ao seu Filho na obra da salvação.
Essa união profunda e íntima com o seu Filho, manifestou-se principalmente no
calvário, onde a “Bem Aventurada Virgem padeceu acerbamente com o seu Filho
único e associou-se com coração de mãe ao seu sacrifício, consentindo
amorosamente na imolação da vítima que d'Ela nascera; e, por fim, foi dada por
mãe ao discípulo pelo próprio Jesus Cristo, agonizante na Cruz”.
Mesmo depois
da Ascensão do seu Filho, onde a Sua humanidade entra irreversivelmente à
glória divina para estar à destra do Pai, Maria “assistiu com as suas orações” ao começo da
Igreja” e implorando com as suas orações, com os apóstolos, o dom daquele
Espirito, que já na Anunciação a cobrira com a Sua sombra.
Finalmente,
como dogmatizado pelo Papa Pio XII em 1950, a “Virgem Imaculada, preservada
imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena,
foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como rainha, para
assim se conformar mais plenamente com o seu Filho, Senhor dos senhores e
vencedor do pecado e da morte”.
Tal Assunção
é uma singular participação na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da
ressurreição de todos os eleitos.
Na Liturgia
Bizantina para a festa da Dormição está presente a seguinte oração:
«No teu
parto guardaste a virgindade e na tua dormição não abandonaste a mundo, ó Mãe
de Deus: alcançaste a fonte da vida. Tu que concebeste o Deus vivo e que, pelas
tuas orações, hás-de livrar as nossas almas da morte»
Mãe da Igreja
A Virgem
Maria, pela sua plena adesão à vontade do Pai, à obra redentora do Filho e a
todas as moções do Espírito Santo, é para a Igreja verdadeiro modelo da fé e da
caridade e sendo “membro eminente e inteiramente singular da Igreja”, constitui
mesmo “a relação exemplar”, o typos da Igreja.
Ela também é
Mãe da Igreja, na ordem da Graça, pela sua cooperação na obra do Salvador, para
restaurar nas almas a vida sobrenatural. Tal maternidade perdura sem
interrupção, desde o consentimento na anunciação até à consumação perpétua de
todos os eleitos. Não abandonando, por isso, o seu ofício maternal após a
Assunção, mas continuando a alcançar-nos os dons da salvação eterna através da
sua multiforme intercessão. Sendo por isso, invocada com os títulos de advogada,
auxiliadora, socorro e medianeira.
Em suma, a
Mãe de Deus não é somente a mãe de Cristo Cabeça, mas também a mãe de seus
membros, a igreja, que com a cabeça, a pessoa do Redentor, formam o Christus
totus.
“Cabeça e
membros são, por assim dizer, uma só e mesma pessoa mística”
O culto à
Santíssima Virgem
“Todas as gerações
me hão-de proclamar ditosa”
A Santíssima
Virgem é com razão venerada com um culto especial. Honrada, desde os tempos
mais antigos, com o título de "Mãe de Deus", e sob a sua proteção se
acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades.
“À Vossa
Proteção recorremos, Santa Mãe de Deus.
Não
desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades,
mas
livrai-nos sempre de todos os perigos,
ó Virgem
gloriosa e bendita.”
Este culto,
de hiperdulia, difere essencialmente do culto de adoração que se presta ao Deus
Uno e Trino.
A Mãe do
Redentor, já glorificada em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há
de consumar no século futuro, sendo por isso símbolo de esperança segura e
consolação para o povo de Deus ainda peregrino.
Humildade
de Maria
Durante a sua
vida, Maria permaneceu muito oculta, como Mãe escondida e secreta, com a
finalidade de que toda a criatura só a Deus conhecesse.
Deus Pai
consentiu que Ela não fizesse milagres manifestos em vida, embora lhe tivesse
dado poder para isso.
Deus Filho, “fruto
bendito do vosso ventre”, permitiu que Ela quase não falasse, embora lhe tenha
comunicado a sua sabedoria.
Deus Espírito
Santo deixou que os Seus Apóstolos e Evangelistas falassem e escrevessem muito
pouco dela, apenas o necessário para dar a conhecer Jesus Cristo.
A Relação
de Deus com Maria
A obra-prima
por excelência do Altíssimo, a “Mulher” profetizada, a nova arca da aliança, o
Santuário e o Repouso da Santíssima Trindade, o paraíso terrestre do Novo Adão,
onde Ele Encarnou, foi um instrumento usado por Deus de maneira em que nenhuma
outra criatura a possa igualar.
Deus Pai juntou todas as águas e chamou-as de mar, Ele juntou todas as graças e chamou-as Maria.
Deus Filho
comunicou à Sua Mãe tudo o que adquiriu pela sua vida e morte, os Seus méritos
infinitos e as suas admiráveis virtudes, fazendo-a de tesoureira de tudo o que
o Pai lhe deu como herança, sendo por isso, o seu canal misterioso que
distribui as suas misericórdias, de modo que ninguém possa ir a Jesus a não ser
através de Maria.
Deus Espírito Santo comunicou a Maria, os Seus
dons inefáveis e escolheu-a para dispensadora de tudo quanto possui. Deste modo,
ela distribui a quem quer, quanto quer, todos os Seus dons e graças e nenhum
dom celeste é concedido aos homens sem que passe por suas mãos virginais.
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