Amoris Laetitia - Continuidade ou Rutura

 Amoris Laetitia 

Continuidade ou Rutura


Quando em 2016, o Papa Francisco publicou a exortação apostólica pós sinodal Amoris Laetitia (a alegria do amor),  surgiu uma polêmica, pois a exortação propunha um caminho de acompanhamento para as uniões irregulares, principalmente a dos divorciados recasados, e uma possível abertura destes à recessão dos sacramentos. A questão que surgiu era como isto se alinhava com o ensinamento da Igreja expresso em encíclicas com a Humanae Vitae de Paulo VI que reforçava a moral sexual e a Veritatis Splendor de João Paulo II que defende a objetividade do mal.




Porém, a Amoris Laetitia é verdadeiramente uma continuidade e não uma rutura.


Humanae Vitae reafirmou, em meio a fortes pressões culturais, a inseparabilidade entre os aspectos unitivo e procriativo do ato conjugal, chamando os casais à vivência da paternidade responsável com abertura à vida e fidelidade ao plano de Deus. 

Por seu lado, Veritatis Splendor defendeu vigorosamente a existência de verdades morais absolutas, recordando que nem todas as escolhas humanas são justificáveis pelas circunstâncias ou pela intenção subjetiva, mas que há atos intrinsecamente maus que não podem ser legitimados.

Amoris Laetitia, longe de negar essas verdades, parte justamente da sua aceitação para propor uma renovada abordagem pastoral, atenta à complexidade das situações humanas. Francisco insiste na necessidade de acompanhar, discernir e integrar as fragilidades das pessoas sem renunciar à proposta exigente do Evangelho. O Santo Padre enfatiza a importância do "discernimento responsável" (cf. AL, 303), em linha com a Veritatis Splendor, que também salientava a necessidade da consciência bem formada para aplicar os princípios morais às situações concretas.

Assim, Amoris Laetitia não relativiza a verdade moral, mas convida a uma aplicação misericordiosa e paciente dessa verdade na vida real das pessoas, sempre buscando conduzi-las à plenitude da vida cristã. Como em Humanae Vitae, há um profundo respeito pela dignidade da consciência pessoal, mas sem cair num subjetivismo moral. E como em Veritatis Splendor, a verdade é apresentada como libertadora, nunca como um peso insuportável, mas sim como um caminho para a verdadeira felicidade.

Portanto, Amoris Laetitia deve ser compreendida não como uma ruptura, mas como uma continuidade dinâmica: um testemunho da tradição viva da Igreja, que permanece fiel ao depósito da fé enquanto responde com criatividade pastoral aos desafios de cada tempo.




Bibliografia

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-05/amoris-laetitiae-papa-francisco-teologa-calmeyn.html 

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